quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Apenas Estrelas

Ela encarava o céu e repetia que as estrelas eram a coisa mais linda de se ver no mundo e que daria tudo pra tê-las. Ele, encarando o chão, pensava em uma forma de dizer que discordava.
Se tivesse coragem, ele a olharia nos olhos e diria que as estrelas não são nem de perto a coisa mais linda do mundo, pois quando ele pensa em beleza tudo o que vê são os olhos dela enquanto olha um céu estrelado. Diria que a coisa mais linda de se ver é o brilho de devoção que surge neles quando ela fala sobre as estrelas.
Se tivesse coragem, diria ainda que pedia todos os dias aos céus, às estrelas e a qualquer coisa que fosse um pouco mais divina do que ele que cedesse um pouco deste brilho para si e que assim, pelo menos uma vez, ela olhasse para ele com o mesmo fervor com que admira as estrelas. Ele diria que implorava aos astros que fizessem o seu nome sair da boca dela com a mesma paixão com que a palavra estrela era dita.
Se tivesse coragem, ele falaria que não precisa das estrelas, pois mesmo que os céus se apagassem e não houvesse esperança em lugar algum, ele ainda estaria repleto de luz se ela estivesse ao seu lado, porque as estrelas são desnecessárias quando o amor está ali, a poucos centímetros de si.
Se tivesse coragem, tomaria o rosto daquela garota nas mãos e diria que não via razão para que ela quisesse tanto ver estrelas, sendo que bastava um espelho para que ela enxergasse o mais belo brilho do mundo. Dito isso, ele traria o rosto dela para perto e mostraria por que estava ali e sempre esteve ao seu lado. Falaria depois todas as lindas coisas que queria dizer sobre amor e as coisas que o rodeiam e a roubaria para si para sempre.
Se tivesse coragem, se ela aceitasse.
Sua coragem é falha, principalmente quando se tratam de palavras a serem ditas. Elas sobem até o meio da garganta e se desfazem num nó, que não permite nada além de lágrimas. Palavras são difíceis de tornarem-se reais e a coragem não parece estar ao alcance dele e mesmo quando está ele não se permite tocá-la. Ele então suspirou e olhou para o céu outra vez:
- Sim, são lindas as estrelas.

Faróis distantes...

Incerteza da vida...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido...

Álvaro de Campos.