quinta-feira, 25 de junho de 2009

Vazio, doce Vazio.

É bom não precisar ser nada.
Existem dias que amanhecem frios e escuros e nesses dias, a claridade não se faz necessária. Nesses dias, eu sou só mais uma gota de chuva que não precisa ser nada e nem sabe por que está onde está. Ela apenas existe, e isso basta. Eu não preciso falar com ninguém ou sentir nada, eu só preciso estar onde estou, comigo mesma, vivendo um momento completamente desnecessário, que não contará nada para ninguém e por mais que eu não precise dele, não o rejeito também.
Não é preciso falar, nem sorrir, só é preciso existir por você mesmo.
Nesses dias, não importa que existam milhões de pessoas vivas por aí procurando o que fazer, ou tentando se desfazer de algo, não importa que o mundo gire, que a as vozes ecoem, que as crianças chorem, que o universo esteja se expandindo ou as geleiras estejam derretendo. Hoje não importa, e não me lembro de nada, só que quero estar aqui por mim e nada mais. Não se trata de egoísmo ou egocentrismo, nem amor próprio, nem nada. Exatamente nada. Não tem uma razão ou um objetivo. Não é nada hoje nem vai ser nada amanhã.
São tão poucas as vezes que podemos fingir que não existe nada ao nosso redor. Tão poucos os dias frios e escuros e tão poucos os momentos de mente vazia que quando eles ocorrem, é preciso aproveitar ao máximo o alívio e paz que trazem.
É bom não existir por um dia, vocês deviam tentar.


Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

Chega Através, Álvaro de Campos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Cada vez mais Nada.

Muitas vezes quero dizer coisas que não existem, falar sobre sentimentos imaginários e situações irreais.
Muitas vezes confundo o real com o absurdo a tal ponto que nem sei mais em qual deles vivo.
E não sei mesmo. Não encontro a fronteira entre os dois extremos, o mundo ao meu redor me faz sentir tão insignificante e ao mesmo tempo me encoraja, me levando a não saber qual dos lados é verdadeiro.
Sinceramente, tudo me parece real, tocável e verdadeiro. Às vezes a imaginação é mais sólida que a realidade e a realidade tão vulnerável quanto nós mesmos.
O real consome, cansa, aborrece e o imaginário é seu e só seu.
Se alguém não se cansa de tantos dias cheios de nada, por favor, me ensine a ser igual.
Nada não quer dizer nada no sentido literal da palavra, mas um nada pessoal. Um nada que é muito e que não diz nenhuma coisa relevante. O nada que é nada simplesmente por não fazer diferença. O nada que está ali como sempre esteve e não importa se vai permanecer ou não. O mesmo querido nada de sempre.
O nada que é a realidade que vivemos, cheia de coisas e cheia de nada.
E talvez o meu nada seja muito, mas eu sou pequena demais para reconhecê-lo.


Ah, não sabias,
Felizmente não sabias,
Que a pena é todos os dias serem assim, assim:
Que o mal é que, feliz ou infeliz,
A alma goza ou sofre o íntimo tédio de tudo,
Consciente ou inconscientemente,
Pensando ou por pensar
Que a pena é essa…

Vilegiatura, Álvaro de Campos.