quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Para onde vamos?

Há algum tempo comecei a escrever num caderno azul, no qual faço à mão com uma certa frequência aquilo que costumava digitar. Talvez por isso eu não tenha mais o impulso de atualizar esse blog. Sentar em frente ao computador e escrever se tornou um ato artificial para mim. O papel é mais real, palpável e pode ser manchado a qualquer momento pela minha caneta e meus sentimentos.
Minha falta de assiduidade no blog vem também do fato de que ultimamente sempre que escrevo um texto acabo achando muito pessoal e não tenho vontade de publicá-lo. Isso me faz pensar nessa necessidade patológica que se tem hoje de expor tudo quanto for possível, publicar as próprias vidas e esperar que os outros leiam, gostem e comentem, o que tem me assustado muito ultimamente.
Fico me perguntando por que diabos uma página na internet precisa conter tantas fotos, referências, gostos, conversas abertas ao público. Fico me perguntando para que ter centenas de amigos se eles não significam nada. Eu queria saber por que estamos tão condicionados a uma tela, tão estupidamente encantados em exibir tudo o que somos, se no fim das contas, no mundo real, não somos nada daquilo. Não temos novecentos amigos, não tentamos dizer o tempo todo o quanto gostamos de algo nem elogiamos comportamentos, palavras e atitudes sempre que as vemos ou ouvimos. Nós não temos sempre algo para dizer.
Mas o dia todo, a semana toda, a qualquer minuto, há gente dizendo algo que sem a menor importância, algo que está sendo comentado e reproduzido por centenas, talvez milhares de pessoas que não tem nada a dizer. E então todos abraçam causas rasas, todos carregam imagens e discursos como se isso os fizesse mais nobres, mais cidadãos. Todos repetem uma causa por que as causas agora são massificadas pelas redes. Ao que parece, ninguém está tentando se aprofundar em nada, ninguém quer saber as origens ou as consequências de nada. Eles só querem algo para dizer, qualquer coisa, afinal, é preciso sempre estar dizendo alguma coisa.
Se é para dizer algo sobre você, não sopre ao vento, diga a quem importa. Se é para lutar por uma causa, levante da cadeira, desligue o computador e vá entendê-la, procure descobrir de que maneira você pode fazer alguma coisa. Se quer expressar seus sentimentos, faça-o para si mesmo ou para alguém envolvido neles. Acredite, você não precisa que todos saibam tudo sobre você, você não precisa estar o tempo todo tentando provar o quão interessante, engraçado ou popular você é.
Eu tenho medo de uma geração inteira que acha que precisa de tudo isso. E às vezes eu acho que o uso da internet para maioria das pessoas hoje é tão estúpido quanto usar Dom Casmurro como calço de mesa.

"Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo,
A banalidade devorante das caras de toda a gente!
Ah, a angústia insuportável de gente!
O cansaço inconvertível de ver e ouvir! "
(Álvaro de Campos)

2 comentários:

  1. Explicado o motivo do meu blog abandonado. Já perdi o numero de quantos cadernos eu tenho feitos a mao. No meu caso, eu acho que o meu blog deixou de ser um lugar feito pra eu expor meus pensamentos e virou uma outra coisa feita pra pessoas criarem opinioes e criticas sobre mim, sobre a minha vida. Com tantas redes sociais, com tanta gente querendo mostrar que é gente, tá sobrando pouco espaço pra quem realmente acredita em alguma coisa.

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  2. lindo tudo aqui !!
    passa la no meu e me seguiii..
    bjos

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