quinta-feira, 2 de julho de 2009

Começando pelo Fim.

Ele podia buscar o mundo, mas não quis.
Ele podia estar num outro mundo, mas também não quis.
Ele podia ter sido muitas coisas, mas não foi nenhuma delas.
Tudo o que ele quis foram aqueles olhos que o fizeram achar que conquistaria o mundo, que estaria num outro mundo e que seria muitas coisas. Acreditou tanto neles que esqueceu que nada aconteceria sem o seu primeiro passo. Envolveu-se tanto na sua luz que se esqueceu das trevas, que estavam por toda parte.
Mesmo assim, viveu da luz e não se afastou dela até que toda a luminosidade, que o mundo julgava efêmera, enfim partiu e o deixou na penumbra que ele se recusava a enxergar. Seu mundo era tão pequeno que quando caiu não gerou o mínimo estrondo. Caiu em silêncio, leve e suave como uma folha de papel, e se em algum momento pensou ter sentido alguma dor, notou que ela era apenas mais uma das inúmeras fantasias que criara em volta de si. Não, a dor não existe. A fraqueza e a falta de coragem são reais, mas a dor pelo fim é pura imaginação, pois ele já não era mais nada e não se destroem ruínas uma vez que elas já estão praticamente destruídas. Os olhos que lhe fizeram achar que suas ruínas eram castelos já não faziam mais parte dele e não podia agir como se fizessem.
Porém, quando tentava recompor seus pedaços, viu que ruínas têm tanto valor quanto castelos. Apesar de derrotadas, ainda existem e intrigam já que um dia foram algo para alguém. E por mais que demore, um dia todo castelo nada mais será que uma ruína, triste e fraca das coisas que já lhe fizeram grande. Partindo disso, decidiu então não restaurar-se dia após dia, não no mesmo lugar, pois aquele já era seu patrimônio histórico e não era ético tocar nele.
Não, não irá se reconstruir.
Fará melhor, no espaço que lhe sobrou, criará um projeto novo, com vista para o antigo, para que nunca se esqueça deste nem de quão belo foi, mas saiba sempre que de fato após a tempestade vem a bonança e que sempre terá forças para erguer não só castelos, mas reinos inteiros.


Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes, Álvaro de Campos.

4 comentários:

  1. Não te conheço , mais te ve na revista da atrevida , os seus textos são sempre perfeitos. Parabens !

    ResponderExcluir
  2. não te conheço mais te vi na revista atrê.²

    ResponderExcluir
  3. oi, achei seu blog num site, li e me encantei, você escreve muuuito bem *-* Fernando Pessoa também me inspira muito! Amei o blog, beijo :*

    ResponderExcluir